Para ter presença, é preciso saber escolher sua dança

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Ilana Berenholc

Se tem uma coisa que eu adoro é o que se chama “feel good movie”. Então, na primeira cena de Rocketman, com Taron Egerton interpretando Elton John, fui imediatamente levada a um outro filme em que este ator trabalha: Eddie, The Eagle.

Quem foi Eddie?

O filme conta a história de Michael Edwards, o primeiro atleta de ski jumping a representar a Grã-Bretanha no Campeonato Mundial em 1987. Mesmo tendo ficado em 55º lugar, ele se qualificou como o único candidato britânico para as Olimpíadas de Inverno de 1988. Terminou em último lugar nos saltos de 70 e 90 metros. Mas, por ser o único representante, acabou sendo o recordista britânico de saltos de esqui.

O filme começa e você já sabe que não vai ser nada fácil para ele realizar seu sonho de se tornar um atleta olímpico. Eddie é um anti-herói nato – e, para contrastar, seu treinador é ninguém menos do que o eterno Wolverine, Hugh Jackman.

O que eu gosto no filme?

Eddie não está nem aí para o que pensam sobre ele. Ele não tem muito talento, não tem o físico, é um pouco “nerd”. Mas, e daí? Ele simplesmente segue em frente com seu sonho de criança. O que me chama a atenção, cada vez mais, é que, para ter presença, não dá para se importar muito com o que os outros vão pensar sobre você.

Vejo isso no meu filho de 7 anos e na minha vizinha de 70 que se veste ultra colorida e é a primeira a entrar na pista de dança quando começa a festa. É estar em um estado de “dance como se ninguém estivesse olhando”. Fazer seus próprios passos, no seu próprio ritmo – e se divertir. É nessa hora que vejo a faísca que chamo de presença.

Qual dança você dança?

Sim, concordo que tem momentos em que precisamos saber justamente como dançar conforme a música. Gerenciar as impressões que os outros têm de nós é, em muitas ocasiões, uma questão de sobrevivência. Somos pessoas multifacetadas e faz parte escolher quais das facetas mostramos para as diferentes pessoas com quem cruzamos por aí.

Se a premissa do personal branding é identificar aquilo que é autêntico, a meu ver, o autêntico é aquilo que vem fácil. Isto é o oposto de construir uma persona que acreditamos que é a que melhor vai funcionar. Numa época em que algoritmos e o politicamente correto ditam como nos apresentar para o mundo, a impressão é que tudo – e todos – ficaram muito iguais. Na estética, no layout, no discurso. Fico um pouco entediada. E você?

A balança anda desequilibrada ultimamente: passamos a maior parte do tempo dançando conforme a música e não como se ninguém estivesse olhando. Como diz Caetano, cada um sabe a dor e delícia de ser o que é. É justamente essa combinação que nos faz interessantes.